terça-feira, 24 de setembro de 2019

apenas um filme...



atento, escuto o silêncio
apenas quebrado pela incursão de teu olhar,
por cada "passo" teu num mundo só meu...

se pudesses auscultar
o sangue que corre em minhas veias,
em cada gota, mil histórias para contar,
um filme colorido,
sorrisos, um beijo "proibido",
abraços em "passo" corrido...
ah, se pudesses tocar...

atento, escuto o silêncio
agora que estás ausente,
mas tão presente...

tão frias as paredes deste quarto,
os cortinados impecavelmente alinhados,
mas lá fora... o sol continua a sorrir,
indiferente a todos os meus fados...

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

ondas ao vento...



como se pudesse navegar
nas ondas de teus cabelos,
preparo meu barco de brincar,
casco de seda, onde as velas são meus dedos...

navego sem destino,
com tanto a descobrir
num corpo em desatino
ávido de prazer e sentir...

meu porto de abrigo?
meu areal estéril e perdido?
assim és tu, meu descontentamento,
rio árido, leito de tormento...



domingo, 22 de setembro de 2019

no templo...




de mente aberta,
coração atento,
entro no templo
onde a Palavra faz sentido...
voa o pensamento pelo imaterial,
pelo divino,
por entre os cânticos do coro,
entra na alma
como gotículas de soro
que nos alimenta, nos acalma...

faz-se tarde,
e não tarda, fecha-se o Paraíso,
interiorizo o certo e o indeciso,
chama que queima, mas não arde.

de mente aberta
sigo o meu caminho,
umas vezes recto, outras em desalinho...

sábado, 21 de setembro de 2019

pingos de chuva...



suavemente libertam-se os pingos de chuva,
como dádiva de vida
a quem a morte já chamava...
tento acariciá-la por entre os dedos,
prendê-la, ou na pele se envolver
como bálsamo de vida, requinte de prazer...
no jardim tudo é quedo
como que embriagado pela frescura tão desejada,
e até as aves antes inquietas e tontas, se acoitam
em copas de árvores agradecidas aos céus...
sorriem meus olhos na manhã
pela quietude deste tempo,
pela paz, pelo momento,
e deixo-me adormecer... até já!





sexta-feira, 20 de setembro de 2019

álbum do tempo…




o tempo presente é como um álbum,
fotos, frases, lugares,
sorrisos límpidos ou de ocasião,
sentimentos escondidos da objectiva na mão...

passo o dedo por cada rosto
como se pudesse abrir sua alma, seu coração,
descobrir seus ideais, ou tão só... seus medos,
suas traições, seus segredos.

ah se o ser humano fosse uma caixa de madeira,
seca e polida, esventrada de emoções,
ou então uma flor, mil picos de roseira
que se corta, e seca ao sabor das estações...

corro a cortina do tempo, sagrado e profundo
qual álbum pessoal, inacessível ao mundo…





quinta-feira, 19 de setembro de 2019

asas de papel...




tudo fica perfeito
mesmo nascendo imperfeito,
se o saber é tanto
e tanto o querer...

assim, qual o espanto,
se te espero, amanhecer,
se te abraço, cada novo dia?

abrindo a janela de par em par,
um sorriso, esta alegria
incontida, este bater de asas, sem voar...





sexta-feira, 13 de setembro de 2019

“ruído”








é este rumor que me embala, 
cada onda de água viva e espuma
que se desfaz a meus pés,
leva o pensamento até o infinito, 
apenas quebrado por um ou outro barco parado na linha do horizonte...
manhãs de vida e ruídos de crianças, 
que nos levam à infância, 
ao mais puro de nós, 
retratos de beleza ímpar 
moldados de ingenuidade...





tempo presente...






(foto da net)

a rua continua no mesmo local,
nada mudou, ou antes, o tempo
rejuvenesceu-a, ficou mais atraente.
 
caminhando, passam por mim os presentes
e os ausentes (saudade!)... sim os ausentes
que também fizeram parte desta rua.
 
o tempo passou rápido, quantas vezes sem despedida
sem um último olhar, um até já...
olho as janelas, algumas há tanto tempo fechadas,
cortinados em desalinho, sem uma alma a espreitar.
 
sigo em frente, talvez deva olhar em frente.
este tempo, este presente,
pouco ou nada me diz. talvez a ilusão em minha alma
arrefeça um sangue ainda em ebulição... preciso de paz, de calma...



podia...







posso esquecer ou fingir,
que apago da memória
pedaços de vida, tanta história...
posso até fazer de conta,
que o brilho desse olhar
já nada diz... oh, não vale enganar
o que bate, bate, bate sem parar...









mar calmo










e se do mar eu fizesse um rio,
sem barco
sem navio,
ou apenas um charco
para chapinar?
assim está hoje o meu mar...






a rua onde moro...







a rua onde moro
não é minha,
não é de ninguém,
e por ser assim,
ai de quem
sem decoro,
ou à socapa na noitinha,
a maltratar,
fazer de conta 
que a rua é pouca monta...
não, a minha rua 
é a minha sala de visitas,
o "tapete" que dá nas vistas,
que desejo também ser a tua...







horizonte e infinito...








abrem-se os horizontes
e desenha-se a linha do infinito,
que se confundem, que se tocam...
as manhãs têm o dom de fazer sonhar,
de nos imaginarmos gigantes...
com um dedo, tentar alcançar
a nuvem que parece pousar no mar,
lá longe... e ao mesmo tempo tão perto.
o pensamento navega na brisa,
fresca, na manhã ainda a acordar,
talvez regresse amanhã, 
talvez ouse continuar a sonhar...







sei de um ninho...






parecem doidos os pardais,
esvoaçando, chilreando
em bandos no quintal...
bem no meio da japoneira,
um ninho de melros...
espreito.. queria só ver
quantos filhotes a crescer...
ar sério, bico amarelo bem afiado,
ameaçador,
(deve ser o progenitor)
convida-me a afastar...
sei de um ninho,
sei quem está lá a morar,
mas prometo não divulgar...



noite...








sinto o peso da noite em meu corpo
como se fosse algo físico, palpável,
e no entanto não te vejo, noite...
entre a solidão das quatro paredes,
escondo todas as luzes
para não te ver chegar, noite.
assustas-me, como me assustam
todos os meus medos,
os meus segredos,
ou todos os enredos que ainda labutam.
fecho os olhos ...
talvez adormeça com o murmúrio do silêncio
ou com a recordação de um breve olhar...
talvez não deva acordar...





momentos...








há momentos assim...
fechamos os olhos,
desligamos do mundo,
escutamos a alma,
"o silêncio mais profundo"...
e no meio do nada,
a história de vida,
passo a passo,
sem meta de chegada...
que importa??
baralhado, em colisão com as regras,
joga as cartas
perscrutando a sorte e o azar...
talvez não o devesse ter feito...
adensam-se respostas
que lhe prendem o peito,
outras que o fazem chorar...
que importa?
há momentos assim...



no "jardim do Éden"





por entre tantas
e tantas plantas,
numa peguei,
cheirei,
e como é natural,
meu lado emocional
num instante ruiu...
pequei (ainda que ninguém viu),
ao cortar prematuramente
um ser que não deixa semente...
triste de ti planta indefesa...
triste de mim, alma em guerra acesa...



fria a noite...







é tarde 
e fria a noite,
não tenho quem me acoite,
nem alma em frio leito
que me aqueça, onde me deito...

apaguem-se as estrelas
e o luar que me persegue,
estou só, e de tão leve,
que me leve a brisa em manto frio,
e  me deixe nos braços d`algum rio.

estou só e a imagem de ti...
pior, invento-te em cada lugar
qual pedra esculpida pelo meu olhar!
foge, foge para o fim do mundo,
paz, quero paz, ainda que por um segundo...



porque brilha uma Estrela...







os homens têm o dom da criação,
e como tal, inventaram um dia especial
de luzes, cor, movimento,
montras de tudo e de nada, de ilusão,
e no calendário, baptizado de "Natal"...
as crianças riem e choram,
zangam-se ou imploram
por aquele brinquedo tão banal l!!
lá no alto, no firmamento,
aquela Estrela, luz brilhando,
ou talvez chorando
lágrimas de sangue ou de sal,
por tanto reboliço na cidade...
Eu? inquieto-me e escondo a verdade...
também fui corrompido,
e no burburinho perdido,
neste mundo tão vazio, tão material...





entardecer...







já não sei buscar
as palavras,
escrever frases soltas,
que animam o caderno da vida
no pensamento...
estendo o tapete
onde deambulam teus passos,
leves, soltos, sim...soltos,
que te podem levar ao infinito.
serenamente, aguardo.
e  confunde-se dentro de mim
o amanhã...



no palco do mundo...







na sala quase vazia de visitas,
o murmurinho, a excitação
pelas palavras que serão ditas...
será sentença, será sermão,
ou tão só frases sem sentido...??

ri-se o narrador... insensata a plateia
que ousou pensar, libertando ondas de ruído
num rio calmo, espelho de água em lua cheia
onde só os incautos se rendem, se deixam prender
na aparente beleza, que só a lua sabe conceber

olha a sala mais uma vez, pela última vez...
olhares cabisbaixos, perdidos no tempo,
desilusão correndo o pensamento,
e eu tão só, no palco do mundo da sensatez...









o passar do tempo...







aprendi a contar pelos dedos,
coisas de menino, de inocente,
talvez assim chegasse a gente
e afastasse de mim todos os medos...

quanto mais contava,
mais os anos passavam,
e meus dedos já não chegavam
para conta tão elevada...

agora reparo em tanto calendário rasgado,
em datas que não vou mais lembrar,
em velas que ficaram por apagar,
nas rotinas diárias que já são passado...

num ápice, num fugaz pensamento,
um filme, mil retratos de nós,
os amigos, família, momentos a sós,
quase tudo levado pelo vento...

quarenta anos, quarenta vidas,
muitos, por certo de ilusões,
quantos sonhos, quantas emoções,
e no final, um palco... as despedidas...





faz tempo, tanto tempo...








faz tempo, tanto tempo,
que o destino era o norte,
correria louca,
coração batendo forte
para os braços do aconchego...
faz tempo, tanto tempo,
que de tão distante
se perdeu o horizonte,
os trilhos, os cheiros,
o riso contagiante
que agora sondo nas asas do vento
e tu tempo que não voltas atrás
que de mim levaste as memórias
todas as recordações,
tem dó, devolve-me a paz
num livro de contos, de histórias....



cantos do mar...








há um chamamento,
um convite, uma fixação,
sempre que por ti passo, mar...
e são tantas as vezes,
tantas, que seriam de perdição
se nos teu encantos me deixasse levar...
vejo as vestes negras
das mulheres contemplando o horizonte,
triste sina, triste dor
de quem perdeu, quem o mar levou...
não me chames, mar,
por mim espera, quem sempre me amou...




quando o dia se vai





quando o dia se vai
e cai a noite,
entre as paredes do quarto, o silêncio,
e tu, o teu momento
de entrega,
de agradecimento
por mais um dia...
recolhes-te em teu corpo indefeso
e entre murmúrio de palavras,
fecharás os olhos,
sem dares por nada,
e quando acordares,
ainda que de madrugada,
sorrirás,
"obrigado por cuidares de mim,
ajuda-me em nova jornada.."