quinta-feira, 27 de junho de 2013

gota de água...




hoje queria ser a água que rega o jardim,
a limpidez, a frescura que brota
das profundezas da terra...
de contentes, parece que as flores agradecem,
e sorriem,
como se numa gota de água,
existisse o elixir da primavera...


domingo, 23 de junho de 2013

tentação...



da sua boca, desprendiam-se os morangos,
as cerejas, colhidos na manhã.
cada fruto tinha lugar certo, ao deslizar
num corpo feito de contornos e textura tão suave...

os amantes tudo comiam, e se lambuzavam,
como se os frutos encarnassem no corpo humano,
apetecíveis, tentadores e irresistíveis,
como só os sentidos conseguem ver...







domingo, 16 de junho de 2013

parece que vai chover...













Adensa-se o cinzento na tarde,
parece que vai chover, ou então,
o sol de zangado se escondeu...
Assim, tristes ficam os namorados
e o vendedor de algodão doce,
que azedo, contabiliza o que perdeu.

as tardes de domingo deveriam ter luz,
muita cor, ruídos de criança,
horas de loucura e de esperança,
mesmo quando o dia a dia é uma cruz...

diz a moça ao companheiro, que o ama,
mas ele sabe que ela mente
porque o amor nas palavras se sente,
e na tarde triste, as palavras não têm chama...

tristes, sós os perdidos no amor,
os que se deixam iludir pelo tempo...
gloriosos, felizes, os que ao relento
adormecem com as estrelas, sem dor....



sábado, 15 de junho de 2013

vazio...



hoje não vi o pôr do sol,
nem a noite se abater sobre o mar...
hoje, não vi a lua chegar.
hoje, tudo era longe e tão perto,
como se perdido num deserto,
as areias me engolissem no nada.
solenemente, clamo pela madrugada....




sexta-feira, 14 de junho de 2013

o carteiro...


não me lembro de ver o carteiro chegar,
nem da campainha da porta tocar,
ou a cadela sempre atenta, ladrar...
se o carteiro não chegou,
não há carta ou postal ilustrado,
ou um bilhete envolto em laço...perfumado.
não há noticias, um coração pintado,
ou lágrimas de cor, de que tudo acabou.

revejo o "mail" novamente
como se o carteiro dissesse "presente"
em cada entrada, em cada dia ausente.
mas já nada tem piada ou emoção,
nem os bonecos para cada ocasião
dão vida á "carta", quantas vezes era entregue em mão...

saudades do carteiro de minha rua,
mas também das "cartas" que por mensagem recebia,
que deixava transparente quem as escrevia,
fazendo com que, a cada noite, morresse nos braços da lua...



segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cinzenta a manhã....



pouco fértil a manhã
nas palavras que não direi,
nos pensamentos que não escrevi,
e nas noticias que não li...
O tempo está do avesso, eu sei,
e a ausência do que me prende
também me transcende,
desequilibrando o ser...

manhãs cinzentas, sem o sol nascer,
não deviam existir,
quando muito chamá-las quando quiser,
quando o amor não sorrir
ou a tristeza tomar lugar...

fecho as portadas de par em par...
no silêncio das quatro paredes,
por entre as nesgas de luz,
talvez veja alguma cruz
nesta saudade, que não mata, mas faz sofrer...



domingo, 9 de junho de 2013

sei de um ninho...



eu sei de um ninho
que não é de passarinho,
é um ninho de ramagem,
entremeado com folhagem,
e está no meio do azevinho.

vejo um melro lá chegar,
muito desconfiado ao entrar,
quando ele sair, vou ver,
se há ovos ou crias a nascer,
se a ramagem do azevinho deixar.

e se o melro a tudo assistir,
e do seu ninho, das suas crias, desistir??
não, não, vou ter de ser paciente,
quem sabe um dia, o filhote de contente,
cante para mim, melodias que me façam sorrir...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

vida...



descem pela encosta da serra, os amantes
saciados pelo chamamento da primavera...

parecem felizes, desligados do mundo.

ele, colhe flor do campo e enfeita-lhe o peito,
ela, oferece-lhe o sorriso e a felicidade...
nos seus rostos, a inocência das crianças.

parecem felizes os amantes sem jeito...




quarta-feira, 5 de junho de 2013

desejo...



ainda que o rio corra debaixo da ponte
e as árvores anseiem tocar o céu,
eu só quero o sossego de um abraço,
e a ternura do teu olhar no meu...

domingo, 2 de junho de 2013

andorinhas no céu...



eram andorinhas no azul do céu,
tanta areia na praia,
tanto mar no horizonte...

quis ganhar asas de imaginação,
de um papel, ser barco, caravela,
partir sem qualquer direcção.

mas é tão fundo o azul do mar
e incerta a minha boa estrela...
aguardo... amanhã o sol vai brilhar...



sábado, 1 de junho de 2013

um mundo só meu...


como cresceu o meu ser...

ainda ontem tinha um mundo só meu,
limitado pelos poucos horizontes,
rodopiando ao jeito do pião
na terra batida do chão...

o aro da velha bicicleta
fazia andar minha cabeça à roda,
pelo jogo do arco que voava 
nos estreitos carreiros da aldeia...

o verão trazia a emoção dos prados,
da sinfonia dos grilos na tarde,
da arte de os apanhar e para casa levar,
como se lhes quisesse mostrar meu lar, doce lar...

lembro dos papagaios de papel, coloridos,
asas das canas que alguém me arranjava,
dos horizontes que eu não via,
porque era o papagaio de papel que voava.

o rio trazia-me o medo do desconhecido,
o fundo que eu não via, e quando na água,
era até o joelho, não viesse uma corrente
e para o fundo me levasse , para sempre...

e o mundo se alarga nas grandes cidades,
a poluição nas ruas, os barulhos
dos carros, das pessoas, dos sentimentos...
outros dias...outros tormentos...

os jogos de computador, do coração,
os anos que passam a correr,
mas os que passaram, sim, foram bons,
mas há tantos ainda para viver...