domingo, 29 de maio de 2016

como as ondas...






cada onda do mar
é como o início de um livro,
página em branco
que o autor vai amarrotar.

ao esbater-se no areal,
ao rebentar na rocha,
toda a força bruta da onda morre ali,
gota por gota, sem vestígios, sem sinal,
até um novo renascer...

assim será uma nova página
de um livro novo que há-de nascer,
palavras com vida, que fazem sonhar,
sempre que o pensamento quiser...


domingo, 22 de maio de 2016

palavras...




por mais que eu queira,
os registos não falam,
nada dizem sobre sentimentos,
são vazios, imperfeitos,
isentos de aromas...
quando muito, são bizarros lamentos
de tanto que ficou por dizer....




sábado, 14 de maio de 2016

beijo-te, Mãe...


há dias que têm este condão,
este querer de entrar na gente,
no mais intimo do coração
e fazer sofrer, a alma que muito sente...

sabes Mãe, lembro quando era pequenino,
também gostei de brincar,
brincadeiras de menino
que eu imaginava e inventava,
e lembro que era franzino,
talvez por isso me isolava
num espaço só meu,
meu território,
um castelo aberto para o céu...

havia meninos que riam,
e à distância, penso até que gozavam,
e tu me defendias
como Mãe enorme que sempre foste...
hoje, olho teu rosto, teu andar,
e sei que continuas enorme,
enorme no teu coração,
mas mais débil se precisasses de me amparar...
por isso Mãe, agora é minha vez
em cada vez que o desassossego chegar,
de sentires que estou a teu lado
te protegendo, se preciso lutar,
mesmo que a luta seja desigual...
beijo-te, Mãe...

manhãs sem cor...



tão silenciosa e triste a manhã,
o céu cinzento,
e as flores tombadas
pela inquietude do tempo...
jazem pelo chão, inertes,
agonizando, enquanto perdem a cor,
sem força, sem desejo maior
de esperar o sol,
o seu grande amor...



terça-feira, 10 de maio de 2016

memórias...




 já não falas da chuva nem do frio,
nem dos gritos da terra
ou dos lamentos do rio,
por cada tempo que passa...
e são tantos os tempos que já passaram,
que nem demos conta...
talvez a idade  com o tempo deixe de saber contar,
deixe de ter memória,
e assim, mais fácil de perdoar
quem a meio da história
se esqueça do início,
ou como teria sido o fim...
falta pouco para tirar mais uma pétala
de tantas com que a flor nasceu,
e serão mais tantas
quantas as vidas que o tempo te deu...

fica com as pétalas...
eu parto com o tempo...