quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

botão de flor...

 











tão tristes, de braços caídos,
as japoneiras parecem sofrer
em silêncio, lágrimas em flor
que nos comove os sentidos.

a chuva as rega, dá-lhes vida
mas no botão de flor, a dor, a ferida
por não crescer... a chuva é assim,
uns dias para viver, outros prenuncio do fim...

se eu pudesse, se ágil fosse minha mão,
no amanhecer, ao nascer do dia,
as flores mais belas colheria ,
e dando vida, desenharia teu coração...



terça-feira, 15 de dezembro de 2020

introspecção...

 








o final de tarde carrega todo um tempo
já passado, vivido ou perdido,
passos contidos na brisa do vento,
um olhar, um abraço sem sentido.

toca o telemóvel...talvez alguém
precise de ouvir uma voz, a minha voz,
um conselho, um riso sem desdém,
talvez um sentido para o mundo de nós.

tão difícil este mundo, este ar que respiro,
(mas de que me posso queixar afinal?)
se tudo parece estar ao contrário (suspiro...),
e ajoelho-me...talvez tenha feito muito mal...


Olhar animal...

 








olha-me olhos nos olhos,
como se assim penetrasse
no mais íntimo de meus pensamentos...

olhar meigo, perspicaz, de cão matreiro,
que verá ele que as pessoas não vêm?

os cães devem ter dons
que os humanos pagariam para ter.

enrosca-se, cola-se a mim,
como se assim se sentisse seguro, 
um porto seguro,
com cama e mesa,
e quem sabe, mesada,
ah, e que não falte a sobremesa...


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

que brilhe o sol...














abro as janelas para o jardim

buscando o perfume da rosa,
a elegância do jasmim,
nesta manhã tão chuvosa.

no meu intimo é primavera, minto,
querendo baralhar as estações,
e assim, até pressinto
que sorrindo, escondo emoções...

que importa a rosa, qualquer flor,
que importa a chuva de outono,
se num instante, em todo o esplendor,
um raio de sol, um presente sem dono...


 

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

apenas um sopro ...

 











solta-se o sol,
a luz, ainda que a medo
na manhã húmida e fria...
é um sopro de vida,
um piscar de olhos,
que rejuvenesce,
que nos faz seguir em frente...
ainda que breve,
é o mais belo presente...

sábado, 5 de dezembro de 2020

segredos

 







o silêncio paira no ar, indelével!
das casas, o fumo pelas chaminés
dizem-nos segredos aos ouvidos,
talvez momentos íntimos, atrevidos,
de quem ainda ousa sonhar.

shiu...não façam barulho!
quem ousaria importunar
os felizes, os audazes,
os anjos do amor, da ousadia,
da saudade por quem já o foi, um dia...

fecho as portas do meu templo,
elevo-me no altar da paz
e fingindo adormecer, contemplo
o interior de mim, tanto por escrever,
e nas veias, ondas de vida a correr...




sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

bom dia!

 







bailam as árvores em movimento concertado
pelo vento norte ríspido e gelado.
por entre a chuva, rostos perdidos pela estrada fora,
enfrentando a fúria sem demora,
já que não há tempo a perder...
ao virar da esquina, há-de o sol nascer...



quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

laços de ternura

 







sabes, as noites agora
são longas e frias,
desertas, pela demora
da ternura e da ilusão,
do bater forte do coração.

se eu reencontrasse teu sorriso,
a ternura desse sorriso,
anteporta do paraíso,
da quietude e paz
que a memória me traz...

será desilusão, ansiedade?
será saudade?
que diferença faz?



quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

o canto das aves...

 







tão belo e inocente o cantar das aves
nas árvores que cresceram comigo,
com cada amor inocente, que me fez perdido
e sem chão, onde o vazio é permanente.

qual a mensagem que não entendi,
qual o canto fatal onde voando, adormecia,
embebido pela sede do amor que inebria
e tudo faz esquecer, ou tudo perder?

tão belo e inocente o cantar das aves,
que felizes, não cuidaram dos incautos
que pulavam e cantavam, quais arautos
da felicidade eterna... triste fantasia.

olha-se ao espelho mais uma vez,
e foram tantas as vezes, que o espelho já esqueceu
das receitas de amor eterno que lhe deu,
e de nada adiantou... a vida é um espelho sem retorno...