segunda-feira, 21 de novembro de 2016

teu nome...








não sei como descrever teu rosto
nem em quantas linhas escrever teu nome,
talvez nem me lembre dele
ou se algum dia chamei por ti...


mas sei que ao olhar-te,
nos teus olhos enormes vi
que me olhavas,
e nem imagino o que procuravas...


não queiras ver o silêncio e o vazio,
as escadas do abismo
e os fundos do mar, onde o rio
e as marés se guerreiam por um lugar no altar.


é assim o meu reino profundo,
feito de lendas, de histórias inacabadas,
de segredos que comigo levo até o fim do mundo
onde tu não estarás, entre as amaldiçoadas...



quinta-feira, 17 de novembro de 2016

conversas na noite....










de lua luminosa, grande,
são as noites que abraço da minha janela,
tão demorados, quase eternos
os momentos que falo com ela,
antes que o tempo se vá arrepender...
se eu pudesse,
se mandasse no tempo,
cada noite seria um evento
só para te ver assim, luminosa e carente,
mas sou apenas um vagabundo como tu,
espreitando e sonhando,
e assim,  sonhando mente
ao coração que pula e sente...
chega o amanhecer,
um raio de luz, um querer mais que querer,
um barco na crista da onda,
para me levar, sem ordem de voltar,
até onde o sonho quiser...



domingo, 6 de novembro de 2016

o vento nada me diz...









agreste o vento que faz lá fora,
sob um céu azul
e de uma espera que demora...
olho o mar pela milésima vez
(e não me canso até ir embora)...
com o vento na crista da onda,
lembro,... se o ontem renascesse agora,
talvez não houvesse vento, e o mar,
o mar... talvez fosse um rio onde navegar...



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

perfil...








ontem éramos tantos,
de tantas as brincadeiras,
os amuos,
os dias sem horas
e tantas as horas sem beiras...
tínhamos o poder da multiplicação
e a arma de tudo acabar,
e ficarmos só nós,
nós e a solidão...
 
mas tu sabes,
pelo brilho de teu olhar
todas as portas se abriam,
e tudo ganhava vida
onde a morte já reinava
em mortalha no leito estendida.
 
é assim que ainda te vejo,
com o brilho no olhar,
mas distante,  no tempo perdida,
com a lua por companhia...
só tu e a sombra de ti,
por trilhos sem norte, sem um abraço ao chegar...



sábado, 22 de outubro de 2016

na noite...







não sei onde nasce a noite,
nem o vento,
nem a chuva que forte cai,
mas deve vir de outro mundo,
sem gente,
sem céu, sem lua.
 
a noite que parou na minha rua,
mete medo
às gentes, aos animais
que ninguém vê,
porque se esconderam, em segredo...








segunda-feira, 17 de outubro de 2016

por outro lado...










cansei de olhar a vida
com os olhos do passado,
vidrados, pasmados numa ponte perdida
que não une mais as duas margens...
hoje, olho o sorriso da manhã,
o encanto sereno das palavras por dizer
mas que os olhos não sabem esconder...
e assim nasce o dia,
dia após dia,
sem sobressaltos, apenas reboliço
no mundo dos sonhos,
onde tudo pode voltar a acontecer...



domingo, 16 de outubro de 2016

meu mundo...




quanto encanto este mundo que me rodeia,
com cheiro a mar, cheiro a algas na areia molhada,
e cheiro a gente que apressadamente se passeia...
outros correm, olhando em frente, corpos suados
como fugindo do nada...
do meu canto, batido pelo mar e pelos pensamentos
vejo tudo em frenesim, sem contratempos
porque o "fim do mundo" é já ali, qual meta de chegada
até um novo dia chegar.
do meu canto, curto reinado até a maré me expulsar,
finjo nada ver, nada comentar,
apenas observo, sorrio e não digo nada...

sábado, 15 de outubro de 2016

chove lá fora..



chegou a noite com mais um findar do dia,
como chegam todas as noites,
em silêncio, apenas quebrado
pela sensibilidade da alma à escuridão.
e com a noite, o sereno bater da chuva no telhado
qual cortina esvoaçando na janela pela brisa da manhã...
como lamento não sentir o cheiro da terra molhada,
nem ver o fio de água que corre e se avoluma
até chegar ao extenso mar...
são tantas as paredes que me cercam,
feitas de massas impenetráveis,
ou de memórias infindáveis...
são estas as paredes que me prendem
e que torturam o passageiro do tempo,
já sem o tempo sonhado,
e no tempo há tanto tempo esquecido...




segunda-feira, 15 de agosto de 2016

azul do mar...





olhava o mar e sorria...
seus olhos se confundiam
com o azul do mar,
e quanto mais sorria,
mais apetecia
entrar nele,
barco à vela partindo
para lugar nenhum,
até o pôr do sol chegar ...
aí, o azul do seu olhar
seria só meu,
como presente
que não se pode partilhar...



domingo, 14 de agosto de 2016

vazio...





inquieta-me o silêncio,
o nascer e o findar do dia,
o azul provocador do mar...
intocáveis, atravessam-nos a alma,
arrepiam-nos, fazem-nos sentir
janelas sem vidros,
livros abertos, sem segredos,
sem inicio nem fim...


domingo, 29 de maio de 2016

como as ondas...






cada onda do mar
é como o início de um livro,
página em branco
que o autor vai amarrotar.

ao esbater-se no areal,
ao rebentar na rocha,
toda a força bruta da onda morre ali,
gota por gota, sem vestígios, sem sinal,
até um novo renascer...

assim será uma nova página
de um livro novo que há-de nascer,
palavras com vida, que fazem sonhar,
sempre que o pensamento quiser...


domingo, 22 de maio de 2016

palavras...




por mais que eu queira,
os registos não falam,
nada dizem sobre sentimentos,
são vazios, imperfeitos,
isentos de aromas...
quando muito, são bizarros lamentos
de tanto que ficou por dizer....




sábado, 14 de maio de 2016

beijo-te, Mãe...


há dias que têm este condão,
este querer de entrar na gente,
no mais intimo do coração
e fazer sofrer, a alma que muito sente...

sabes Mãe, lembro quando era pequenino,
também gostei de brincar,
brincadeiras de menino
que eu imaginava e inventava,
e lembro que era franzino,
talvez por isso me isolava
num espaço só meu,
meu território,
um castelo aberto para o céu...

havia meninos que riam,
e à distância, penso até que gozavam,
e tu me defendias
como Mãe enorme que sempre foste...
hoje, olho teu rosto, teu andar,
e sei que continuas enorme,
enorme no teu coração,
mas mais débil se precisasses de me amparar...
por isso Mãe, agora é minha vez
em cada vez que o desassossego chegar,
de sentires que estou a teu lado
te protegendo, se preciso lutar,
mesmo que a luta seja desigual...
beijo-te, Mãe...

manhãs sem cor...



tão silenciosa e triste a manhã,
o céu cinzento,
e as flores tombadas
pela inquietude do tempo...
jazem pelo chão, inertes,
agonizando, enquanto perdem a cor,
sem força, sem desejo maior
de esperar o sol,
o seu grande amor...



terça-feira, 10 de maio de 2016

memórias...




 já não falas da chuva nem do frio,
nem dos gritos da terra
ou dos lamentos do rio,
por cada tempo que passa...
e são tantos os tempos que já passaram,
que nem demos conta...
talvez a idade  com o tempo deixe de saber contar,
deixe de ter memória,
e assim, mais fácil de perdoar
quem a meio da história
se esqueça do início,
ou como teria sido o fim...
falta pouco para tirar mais uma pétala
de tantas com que a flor nasceu,
e serão mais tantas
quantas as vidas que o tempo te deu...

fica com as pétalas...
eu parto com o tempo...

sábado, 26 de março de 2016

cores do silêncio















pintei de branco as paredes de meu corpo,
como se fossem de pedra, rude, dura,
pintei de negro todas as divisões de minha alma,
onde não entra luz, nem sonho, nem ternura.
quem olhar, nem vai notar...
tão fácil enganar, quem vê sem olhos de ver...
tão difícil enganar, quem ousar escutar
o silêncio, as paredes frias de meu ser...



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

rumos...





talvez ainda fosse cedo,
ou talvez o amanhã tardasse em chegar...
incrédulo, solta as amarras da alma
e deixa-se guiar pelo vento.
o vento... outrora mensageiro dos aromas,
do canto da serra, das flores do monte,
é agora mensageiro do vazio,
do silêncio profundo.
talvez ainda fosse cedo,
ou talvez o tempo 
esteja fora de tempo,
como a criança que parte
sem vida, sem arte,
apenas pó, nas asas do vento...