o azul do céu e o verde do jardim é o mundo que me rodeia, apenas invadido pelo silêncio que quase me adormece, ah e o sol, que faz questão de bronzear, que aquece a alma, que completa a moldura de tons e de vida...
tão fácil e tão simples ter um mundo assim... tão perfeito o equilíbrio, imagem tão real de mim..
fito teu olhar em cada tema que desenvolves, e resolves... como se fosses o centro do mundo, a base do pilar mais fundo... talvez por isso, esse ar "tão seguro"... admiro-te e não o escondo! cairia "redondo" se ousasse mentir, ou de rubro minhas faces se vestiriam, qual "teenager" ao esconder seu "sentir"... Fito teu olhar... mais uma vez, e mais outra, e mais outra... até onde sei contar... até dez!!
quando voltará o tempo em que o tempo voava, fugia por entre os dedos, enquanto o nosso tempo (sim, cada um tem seu tempo) entre palavras se esfumava, e num beijo se erguia contra os medos...? abro mão de tudo (e tudo era tão pouco), se o tempo voltar atrás, ainda que o olhar do mundo me chame louco, irresponsável, sem palavra, ou de palavras vás... abro mão de tudo (e tudo era quase nada), se no silêncio da noite conseguir tocar teu nome, soletrar cada letra, inventar-te na madrugada, respirar-te, e nos braços do tempo, adormecer lado a lado...
tão leve o amanhecer, tão promissor este entardecer...
como se fosse Agosto, como se os dias não tivessem horas, assim são os dias de sol e de paz, de silêncio, por entre o arvoredo, por entre o colorido das rosas e dos liretes, apenas interrompido pelo cantar do melro ou das rolas nos cabos da rua...
abre-se a janela de par em par como se a luz quisera entrar, permanecer, dizer presente, e batendo no coração diz suavemente: "voltei, serei LUZ eternamente"...
de onde vem este querer, não querer, este bem estar, sem estar, este constante palpitar, como quem ousa viver numa ilha perdida, isolada, entre as estrelas e o mar? perdido, errante, qual caminhante sem tostão na algibeira, segue em frente, sem cidade que o acolha, sem paragem na fronteira, apenas e só o querer, o estar num qualquer barco sem remo, baloiçando, sonhando, sempre que uma estrela brilhar...
procuro e não encontro porque não sei o que procuro entre a luz e o escuro que é tudo o que me rodeia... apenas a flor, o colorido no seu esplendor, conseguem desviar meu olhar, ver cor, sentir o amor...
ainda não é tarde no tempo, o tempo que um dia adormeceu perdido entre as serras e o céu... no silêncio do momento, fecha os olhos, a sala apenas com a luz das estrelas e o bater do coração, no pensamento talvez os sonhos, ou rebates de desilusão.... acende a luz, não a luz que te faz ver, tocar cada objecto, mas o interior de ti, o mais intimo de ti, como se fosses casa, sem parede, sem tecto, apenas vida, fluido em evolução, e vê, é apenas sentimento, chamamento do coração...
perfeita melancolia na tarde ouvindo a chuva cair, o crepitar da madeira que arde, os olhos em sossego latente...
o pensamento querendo fugir para um abraço, tão e tão presente, perfeito equilíbrio, quase sedução pelo tempo que faz, como se não fora precisa oração implorando, buscando paz...
o tempo não parou amor... os teus olhos vêm-me com o olhar de ontem e tu sabes que mentem... toca minha pele com a leveza de tua pele, cada ruga, cada sulco do tempo... o tempo não parou amor, são as marcas de dor que nas noites ao relento teimaram em ficar, quando minha voz ficava rouca de tanto te chamar... dizes que são mágoas, talvez labirintos, águas que algures vão desaguar...
que nasça o dia, que a primavera seja florida, e teu sorriso, apenas um beijo na ferida...
não sei o que vejo em teu olhar não sei decifrar o teu olhar... se te pedir ajuda, talvez inventes, mas sei que não mentes se entrares no meu olhar.... para quê as palavras, a monotonia do som, se em tão leves gestos sentir o bater de teu coração?
a noite chega, devagarinho, quase sem darmos por ela, apenas o céu e o infinito, as estrelas e a lua, e o pensamento que se perde no parapeito da janela virada para a rua... queima-se mais um cigarro, inventam-se "argolas" no fumo lançadas no espaço... sem rumo.
abro novamente o livro já há muito fechado pelo tempo... página a página, palavra por palavra, tudo devoro como se próximo viesse o fim de tudo... de cores vivas, umas tantas, outras de cinzento, quase negro, quais pedras comidas pelo fogo, assim são as letras que compõem uma canção sem início, sem fim... mas eis que aparecem páginas em branco, tentação para quem não dá a causa como perdida, antes no tempo adormecida...
como se fosse pássaro leve, de asas ao vento, como se fosse folha seca desprendida da árvore sem tempo como se fosse um rio, partindo alegre à descoberta da liberdade, o mar sem amarras, como se fosse um ser humano livre, de ideias, de pensamento, assim sou eu, errante pelas ruas já gastas mas embriagando-me no momento tão único, tão fugaz, tão sedento...
olho o horizonte limitado a quatro paredes, pintadas sobre um areado imóvel num branco que já se perdeu... se eu fosse livre, queria ser rio, espelho de água que retrata o céu e que de longe namora quem lhe acena... pinto a imagem num olhar teu, um sorriso vivo, cândido, perfeito, qual vela ao vento num barco rabelo, carregando vida, sonhos, se sonhar foi sempre teu jeito...