segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

saudade

 







até onde pode viajar o pensamento,
se livre de nostalgia e com todo o tempo
do mundo?

fecho os olhos, e a tudo o que possa retirar
toda a solenidade dum momento ímpar
e tão profundo...

de asas brancas, quais anjos imaginários,
surgem todos os rostos, livres, solidários,
ainda que num breve segundo...

eles, os meus anjos, compreendem
o meu grito contido, ao vento proibido
de contar histórias, memórias,
sim, que o tempo lembra como vivido.

afago cada um (os meus anjos) com luva de cetim,
e acaricio cada fio de cabelo
que um dia passou por entre meus lábios,
e tudo foi tão, mas tão belo...

domingo, 10 de dezembro de 2023

Natal nas estrelas

 


fito o horizonte 
onde não avisto renas,
nem trenós
puxando velhos barbudos 
que lembrariam nossos avós...
apenas avenidas 
de lâmpadas coloridas...

de coração cheio, sorrio,
e sigo meu caminho
tentando ver a maior Estrela 
que brilha, e um Menino,
em palhas dormindo...



sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

emoções

 







voltas ao sitio onde as emoções
te marcaram um dia,
feito de sonhos, traições,
pesadelos, e tantos de alegria,
e vês que valeu a pena...

vale sempre a pena, quando a alma
tem o tamanho do mundo,
um sorriso que tudo esconde,
uma palavra sensata que acalma
cada rosto com que te deparas,
a paz nos sorrisos que te abraçam,
e te fazem sentir gigante,
naquele mundo por vezes sem nexo,
em quase nada excitante...

voltaste... não porque há chamamento,
saudade ou lamento,
mas porque algo ficou por dizer,
algo que teimas esconder.

na certeza do acto, desvias teu olhar
na troca de olhares, não vá ele te denunciar...


terça-feira, 5 de dezembro de 2023

junto da lareira

 








sente-se mas não se vê,
ouve-se, e não se sente
ninguém por perto,
apenas o crepitar da madeira,
e este lume brando
que nos aquece o corpo e a alma...
pela mente, ressuscitam viagens, 
lugares, amores e desamores, 
passado e presente, 
fantasias, certezas e temores, 
imperceptíveis num rubro rosto
em tudo ausente...

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

viagens

 








sempre haverá um rio,
e um barco unindo as margens,
como o Norte até ao Sul,
mapa onde se cruzam viagens...
de que adianta querer fintar o destino?
as malas estão prontas para outras paragens...



sábado, 2 de dezembro de 2023

Granja

 








num constante movimento 
quase ritmado no tempo,
as ondas morrem na fina areia, 
perdendo-se pelos labirínticos rochedos.
talvez contem segredos,
histórias de náufragos, 
visões em noites de lua cheia...
talvez seduzam os desprevenidos 
ou os embebidos pelo canto da sereia...

quem sabe já esqueceram meus passos
perdidos na areia batida, molhada,
em tardes que o dia prolongava,
marcas de amantes sem rumo, sem nada....




sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

ansiedade

 







o vento passa em silêncio,
e o silêncio nada me diz,
como se ontem não existisse
e não houvera castos sorrisos,
palpitações, sentimentos imprecisos...

fecho todas as janelas
perdendo-me no vazio,
onde sentir é um arrepio
que me trespassa a alma,
e me faz viajar qual raio de luz...

de que valem os sonhos, desejos,
momentos, sentimento,
quiçá sofrimento,
pela ânsia de teus beijos?

terça-feira, 28 de novembro de 2023

sonhos

 








é das vivências no inconsciente que o sonho nasce,
qual filme a decorrer, onde as imagens
permanecem nítidas, tão próximas,
ao alcance de meus dedos.
que ninguém ouse me tocar
ou falar ao ouvido,
segredar
palavras lindas ou sem sentido...

o sonho prossegue
e na essência se ergue,
qual realidade presente,
até que, um raio de luz,
um estremecer na escuridão,
e tudo se dissipa
como fumo por entre os dedos da mão...


sábado, 25 de novembro de 2023

a nudez dos seres

 







já é tarde, como se o tempo
não tivesse passado,
ou de tudo estivesse arredado
enquanto adormeci ou morri ao relento.

são meus olhos que já não querem ver
as penumbras do que era luz e cor,
nem os teus olhos pedindo amor,
quando dentro de mim tudo teima adormecer.

já é tarde, e rapidamente caiu a noite
no meu ser, quem me acolhe, onde eu pernoite
e acorde nos seus braços qual abraço final?

liberto-me desta mortalha, tão fria, tão nua,
imagem de tua pele na minha pele num qualquer banco de rua,
e sigo noite fora, procurando na lua um sinal....


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

navegando

 








ainda que chova todo o tempo,
ainda que a vida seja um lago de água,
que meu barco navegue ao sabor do vento
nas calmas águas da vida, sem mágoa,
e desprendido do sentimento...

que cada pingo de chuva, lave o corpo, a alma,
numa dança sem par, apenas eu, numa rua calma...



terça-feira, 7 de novembro de 2023

sol de outono












tarde de outono, do tempo incerto,
do sol que de forma fugidia
te beija o corpo, atravessa a alma,
embala-te num eterno momento de fantasia.

fantasia de sonhos e quimeras,
de fugazes momentos quão difíceis de apanhar
tão rápido é o tempo, o filme que passa
nuns breves segundos que nem sentes o respirar...

de olhos cerrados, a pele pedindo mais calor,
absorves-te de tudo, dos medos, da dor
que o teu mundo cria e leva até ti, sem nada pedires.

esqueçam que eu existo... nada quero ouvir, sentir,
o meu mundo é este, eu, o sol, e as folhas a bulir
pela brisa de teu ser, quando meus lábios nos teus sentires...


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

mãos cheias de nada...

 







tenho todo o tempo do mundo,
uma mão cheia de nada,
e outra mão numa escrita sem nexo,
sem vigor, sem alma, defraudada...

é hora de partir, barco sem remo, sem vela,
amparado pelo sorriso aberto, franco,
que me guia até ao mar imenso
onde teu rosto é luz envolto em manto.

que não se apague esta miragem,
este sonho vivido, alma sem bagagem,
sem porto de abrigo, algo intenso,

sem dor, apenas resquícios de outrora,
como quem se fere ao colher a amora
num silvado inventado, imaculado, denso...


domingo, 5 de novembro de 2023

outros olhares...

 








do nada nascem,
ou renascem
memórias,
histórias,
encontros,
desencontros,
olhares inquietos,
lábios despertos
para palavras de ocasião,
ali...na palma da mão...

e nesse moreno com graça,
perfilha-se a saudade
do tempo que passa,
mas tão ingrata a verdade...


terça-feira, 21 de março de 2023

sobre as palavras...

 







tenho em mim todas as palavras
que fariam um poema,
que falaria de emoções,
de amor ou de paixões,
se tal valesse a pena.

tenho em mim todas as palavras,
um rio bravo por domar
correndo em desafio,
verso a verso, aceso o pavio,
até onde alguém decifrar.

sufocadas pelo silêncio no tempo,
desnudadas na alma, em solidão,
em cada palavra o sofrimento
que o verso não traduz, nem dá razão...


sábado, 18 de março de 2023

"uma letra para ti..."








na paragem do autocarro,
as horas que passam, acendo o cigarro
com teu rosto na saudade,
enquanto o autocarro tarda pela cidade...

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio.

sento-me nos bancos de trás,
a música que toca é o bem que me faz,
amor, espera, curva após curva estou a chegar,
e teus doces lábios, um presente, um doce beijar...

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio.

finalmente teu abraço,
um beijo, um amasso,
amor, era grande a saudade,
agora, no silêncio, os corpos fervilham na leviandade.

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio. 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

fazer de conta...

 







é inútil ficar, permeável 
a este ar que me incendeia
nesta terra agreste, indomável,
rios onde as águas secam,
e os mares são castelos de areia 
intransponíveis...

nos mais secretos sonhos, 
o teu rosto projectado 
na lua
reflecte-se no meu leito,
só a imagem de ti
e o rumor de teu afago 
em meu peito...

é inútil ficar, fazer de conta,
quando no íntimo de mim desponta 
a vida, escalada sem jeito...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

o limite da razão...

 








as imagens ferem como lâminas,
sem sangue, sem vestígios,
apenas ferem... ferem
e destroem o limite da compreensão humana...

porquê? qual a razão?
questiono-me, e as respostas são vazio, são em vão...

as percepções até aqui intocáveis, assumidas,
desmoronam-se, tal como aves que tombam feridas!



"leveza das palavras"

 








soltam-se as palavras,
como folhas secas
desprendidas das árvores,
ou arrancadas pelo vento...

leves e sem conteúdo,
ou pesadas, curvadas pelo tempo,
as palavras têm os segredos
que os lábios interpretam
na troca de olhares.

soltam-se as palavras
ao sabor da brisa,
no perfume exalado
numa conversa no tempo prometida.

e necessárias, as palavras adormecem,
serenas, num sono profundo,
como se não houvera amanhã...


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

leveza do toque...

 








é cedo, lenta a madrugada,
rumo ao mar, a ondulação,
a brisa na crista da onda...
e no meu rosto...

sigo em frente,
com perfeita noção,
que todo o coração sente
alguma nostalgia, com este horizonte...

passo apressado,
o pensamento para lá do infinito!
ah se estivesse sozinho,
se minha liberdade fosse um grito,
ansiando um navio ou uma cápsula do tempo...

ou um abraço... apenas um abraço,
uma brisa suave,
um toque, um passatempo...

e continuo no meu mundo, passo a passo...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

amanhecer...

 











quero acreditar que nascerá amanhã,
a luz mais brilhante
do raiar do dia...

que seja luminosa e limpa,
que trespasse a alma,
que derrube muros,
todos os segredos...

quero acreditar que o amanhã
será límpido, sem medos,
lágrimas de fogo como a flor da romã...

quero acreditar que elevando as mãos,
vou prender, só para mim,
toda a luz do mundo, límpida, luminosa,
até que chegue o fim...



terça-feira, 24 de janeiro de 2023

castelo de areia...

 







e no momento tudo acabou,
tudo ruíu, se desmoronou,
não adianta fingir,
cruzar os dedos, esconder,
a verdade vai sempre surgir
no tempo que tudo quer reviver.

e partes para além do nada,
no silêncio, na tarde ou madrugada?
que importa..., são os momentos
que nunca sonhamos
a acontecer, lamentos
pelo tempo que não gastamos...

pedra por pedra, um castelo construí
na mais alta montanha, sem ti,
apenas eu e o rumor de teus passos
ou o que sobrou de ti, em pedaços...


para lá de tudo...

 

cada novo dia tem este dom,
ser um novo dia, o sol que aquece,
uma brisa que nos toca, e desaparece
por encanto, uma sombra na contra mão...

é neste murmúrio matinal,
numa alma em desassossego,
que renasce o imaterial e a tudo me desapego,
com a consciência de que existe o bem e o mal.

em correria, risos e sacola asseada,
seguem em grupos, a pequenada,
deixá-las ir na sua inocência...

porque lá longe, muito longe, onde a vista não alcança,
os dias serão outros, reina a morte, defunta é a esperança,
e tudo é dor, escuridão, terror e impotência!





domingo, 22 de janeiro de 2023

silêncio...

 










há uma folha branca 
e há um deserto de ideias...
se algo aparecer,
que seja imaculado
e nobre, altar incandescente
onde as preces terão sentido!

há uma folha branca,
e no horizonte, um sorriso,
mão estendida
mas que não alcanço... desculpa
pelo vazio, pelo ar que não respiro,
mesmo sentindo o rumor de teu coração...