terça-feira, 21 de março de 2023

sobre as palavras...

 







tenho em mim todas as palavras
que fariam um poema,
que falaria de emoções,
de amor ou de paixões,
se tal valesse a pena.

tenho em mim todas as palavras,
um rio bravo por domar
correndo em desafio,
verso a verso, aceso o pavio,
até onde alguém decifrar.

sufocadas pelo silêncio no tempo,
desnudadas na alma, em solidão,
em cada palavra o sofrimento
que o verso não traduz, nem dá razão...


sábado, 18 de março de 2023

"uma letra para ti..."








na paragem do autocarro,
as horas que passam, acendo o cigarro
com teu rosto na saudade,
enquanto o autocarro tarda pela cidade...

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio.

sento-me nos bancos de trás,
a música que toca é o bem que me faz,
amor, espera, curva após curva estou a chegar,
e teus doces lábios, um presente, um doce beijar...

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio.

finalmente teu abraço,
um beijo, um amasso,
amor, era grande a saudade,
agora, no silêncio, os corpos fervilham na leviandade.

amor, eu desespero pelo teu desespero,
mas tu sabes, quando demoras eu espero,
e a vida é assim, um grande corrupio,
uns dias na paz, outros a toque de assobio. 

sábado, 11 de fevereiro de 2023

fazer de conta...

 







é inútil ficar, permeável 
a este ar que me incendeia
nesta terra agreste, indomável,
rios onde as águas secam,
e os mares são castelos de areia 
intransponíveis...

nos mais secretos sonhos, 
o teu rosto projectado 
na lua
reflecte-se no meu leito,
só a imagem de ti
e o rumor de teu afago 
em meu peito...

é inútil ficar, fazer de conta,
quando no íntimo de mim desponta 
a vida, escalada sem jeito...

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

o limite da razão...

 








as imagens ferem como lâminas,
sem sangue, sem vestígios,
apenas ferem... ferem
e destroem o limite da compreensão humana...

porquê? qual a razão?
questiono-me, e as respostas são vazio, são em vão...

as percepções até aqui intocáveis, assumidas,
desmoronam-se, tal como aves que tombam feridas!



"leveza das palavras"

 








soltam-se as palavras,
como folhas secas
desprendidas das árvores,
ou arrancadas pelo vento...

leves e sem conteúdo,
ou pesadas, curvadas pelo tempo,
as palavras têm os segredos
que os lábios interpretam
na troca de olhares.

soltam-se as palavras
ao sabor da brisa,
no perfume exalado
numa conversa no tempo prometida.

e necessárias, as palavras adormecem,
serenas, num sono profundo,
como se não houvera amanhã...


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

leveza do toque...

 








é cedo, lenta a madrugada,
rumo ao mar, a ondulação,
a brisa na crista da onda...
e no meu rosto...

sigo em frente,
com perfeita noção,
que todo o coração sente
alguma nostalgia, com este horizonte...

passo apressado,
o pensamento para lá do infinito!
ah se estivesse sozinho,
se minha liberdade fosse um grito,
ansiando um navio ou uma cápsula do tempo...

ou um abraço... apenas um abraço,
uma brisa suave,
um toque, um passatempo...

e continuo no meu mundo, passo a passo...


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

amanhecer...

 











quero acreditar que nascerá amanhã,
a luz mais brilhante
do raiar do dia...

que seja luminosa e limpa,
que trespasse a alma,
que derrube muros,
todos os segredos...

quero acreditar que o amanhã
será límpido, sem medos,
lágrimas de fogo como a flor da romã...

quero acreditar que elevando as mãos,
vou prender, só para mim,
toda a luz do mundo, límpida, luminosa,
até que chegue o fim...



terça-feira, 24 de janeiro de 2023

castelo de areia...

 







e no momento tudo acabou,
tudo ruíu, se desmoronou,
não adianta fingir,
cruzar os dedos, esconder,
a verdade vai sempre surgir
no tempo que tudo quer reviver.

e partes para além do nada,
no silêncio, na tarde ou madrugada?
que importa..., são os momentos
que nunca sonhamos
a acontecer, lamentos
pelo tempo que não gastamos...

pedra por pedra, um castelo construí
na mais alta montanha, sem ti,
apenas eu e o rumor de teus passos
ou o que sobrou de ti, em pedaços...


para lá de tudo...

 

cada novo dia tem este dom,
ser um novo dia, o sol que aquece,
uma brisa que nos toca, e desaparece
por encanto, uma sombra na contra mão...

é neste murmúrio matinal,
numa alma em desassossego,
que renasce o imaterial e a tudo me desapego,
com a consciência de que existe o bem e o mal.

em correria, risos e sacola asseada,
seguem em grupos, a pequenada,
deixá-las ir na sua inocência...

porque lá longe, muito longe, onde a vista não alcança,
os dias serão outros, reina a morte, defunta é a esperança,
e tudo é dor, escuridão, terror e impotência!





domingo, 22 de janeiro de 2023

silêncio...

 










há uma folha branca 
e há um deserto de ideias...
se algo aparecer,
que seja imaculado
e nobre, altar incandescente
onde as preces terão sentido!

há uma folha branca,
e no horizonte, um sorriso,
mão estendida
mas que não alcanço... desculpa
pelo vazio, pelo ar que não respiro,
mesmo sentindo o rumor de teu coração...


terça-feira, 1 de novembro de 2022

a dor da perda…

 






o local não seria propício para conversa...

"já passaram 10 anos que nos deixou..."
"ninguém está preparado..."

ouço, interiorizo, e um calafrio 
percorre meu ser...
e quando acontecer, que montes, que vales, 
que rios acolherão a dor?

que forças interiores se emanciparão
na fragilidade do momento?

tempo, faz do meu ser,
um castelo da terra ao céu...


Um dia como os outros ...

 








há dias que o calendário
teima em recordar...
apressam-se as pessoas,
carregam flores, triste o semblante...
o dia, como qualquer dia, nasceu,
e o sol ainda que envergonhado,
vai brilhando, a tudo indiferente.
por entre "ruas" estreitas,
do sítio onde jazem os que partiram,
a azáfama de embelezar,
"dar vida" ás pedras esculpidas
e para sempre inertes...
dentro de mim, apenas a singela recordação 
e um agradecimento à vida...


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

inquietações...

 






do cimo das escadas as ideias renascem
e tudo se questiona, tudo parece imperfeito,
como uma casa terminada, mas com defeito,
afinal está de pernas para o ar...

questiono-me a cada momento
o que fazer, se refazer o que está feito,
ou fazer de conta e nada levar a preceito,
mesmo estando em plano inclinado...