quinta-feira, 7 de novembro de 2019

para lá das estrelas...


chegou a noite,
sem encanto,
com meu manto
onde eu pernoite.

ninguém perguntou,
(ninguém quer saber)
se estou vivo, se vou morrer,
quão mal estou.

mas a noite sabia
das fraquezas de mim,
dos sonhos sem fim
que nas estrelas escrevia...

afasta-te, deixa-me só
neste manto a levitar,
neste imenso mar,
talvez a lua de mim tenha dó...

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

outras palavras...



teces as palavras ainda nuas
no tear que seguras em tua mão,
indiferente ao povo que nas ruas
segue sem tino, sem direcção.

quem sabe um livro escreverias
das amarguras que a vida te deu,
folhas em branco, onde não te atreverias
a decifrar o que o mundo te escondeu...

tão tola a inocência ainda por perder
num mundo sem janelas, sem muros,
onde o desejo é maior que o querer.

admiro-te e ao mesmo tempo invejo
tua ausência, neste mundo onde só os duros
se abatem entre si, sem um abraço, sem um beijo...


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

ansiedade...




de onde vem esta ansiedade
que pesa sobre os ombros,
tempo sem luz, sem claridade,

momentos únicos de nostalgia
que tento acalmar pela leitura
dos pingos de chuva e da aragem fria...

fecho os olhos, e são os sentidos
que em alerta, me protegem
dos rumores e dos medos na mente perdidos.

Talvez as nuvens se dissipem,
talvez em meus olhos brilhe o sol,
talvez chegue a noite e os sonhos se agitem...


sábado, 26 de outubro de 2019

Tua voz...



ouço Tua voz
na sonoridade das palavras,
no eco do Templo sagrado,
nas vozes que se levantam.

sim, ouço Tua voz,
mas... perdoa-me!!
são tantas outras vozes
que teimam em gritar,
agitar o mais puro de mim.

o que fazer, se as forças fogem,
ou se amedrontam, e eu fico tão só...

só, e todos os ecos que me atormentam...
questiono meu ser,
questiono meu querer,
mas nada nem ninguém me responde.

ah, estes ecos que se agigantam...




terça-feira, 22 de outubro de 2019

leituras....



queria partir em cada verso que leio,
em cada poema, quantas vezes imperceptível,
decifrar o pensamento do autor,
o rumo das palavras, o segredo das palavras...

mas ao fazê-lo, arrisco entrar
no obscuro, na desconhecida mente,
que, quem sabe, cada palavra me tome, me atormente,
me seduza, por quem me deixe encantar...

o autor tem seus métodos, seus truques infalíveis
de prender o leitor, de o conduzir
pelos incautos caminhos, ou até fazer seu mundo ruir
onde o mais forte enxuga suas lágrimas em momentos sensíveis.

folha após folha, poema após poema,
deixo deslizar o pensamento como a pena no papel,
deixo fluir, como brisa suave num fim de tarde,
ainda que os medos se agitem na ponta dos dedos.

domingo, 20 de outubro de 2019

medos...




quando a tarde se põem
e vertiginosamente cai a noite,
é que nascem os medos
dos desencontros da manhã.

é quando as trevas nos tomam e nos embalam,
e as vozes antes silenciadas, não mais se calam...


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

apenas quimeras...


era o tempo da quimera,
dos sonhos, da esperança,
das planícies pintadas de primavera,
dos mares calmos até onde a vista alcança...

esse era o tempo do paraíso, vandalizado neste tempo
presente, novelos de dor, guerra... tanto tormento!

viajando sobre as nuvens,
tinha o mundo na palma da mão,
retrato sem dó, sem filtro,
apenas um "ai" sofrido, roubado ao coração.

tão fácil virar tudo de pernas para o ar,
e tal e qual um apagão, tudo se perder
num mar irado, de lixo a abarrotar,
cascos de barcos em chama lenta a arder!

aquele era o tempo das quimeras,
tomado de assalto por qualquer bando de feras....


palpitações....



ainda sinto o calor em minhas mãos
de teu corpo em brasa,
na longa madrugada
até nascer a aurora.

eram teus seios socalcos
de vinhedos perdidos, mas tão íngremes,
como se não houvera vindima
nem chuvas de inverno.

perdia-me, como se perdem os inocentes
por entre as veredas da floresta,
onde tudo é luz, rumor de mar e farol
pela cegueira do querer...

não queiras ler meus olhos
nem as palpitações em desaceleração,
são minhas mãos em tuas mãos
quem move o mundo a cada segundo,
a cada novo raiar do dia...


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

só o silêncio...



ouve o silêncio das palavras,
do sorriso nos lábios entreabertos,
d
as árvores, com os ramos 
suspensos no vazio...

ouve o murmurar da lua
no infinito universo,
iluminando os casais de namorados
no silêncio abraçados.

perde-te onde não te encontras,
ainda que a praça esteja repleta de gente,
mas tu tão só, tão ausente,
só assim ouvirás o silêncio.

chiu, chiu... eu sou o silêncio,
companheiro das palavras mudas,
das mentes sisudas,
das histórias que à falta de som,
ficaram por contar....




quarta-feira, 9 de outubro de 2019

no vento que passa...




no vento que me envolve,
no ar que não respiro,
um leve suspiro
no tempo que tudo resolve...
deixo-me embalar,
deixo-me guiar,
afinal o mar está tão perto,
e o areal, um imenso deserto
onde os sonhos ainda vagueiam.
paro e escuto... são teus passos que me rodeiam...


terça-feira, 24 de setembro de 2019

apenas um filme...



atento, escuto o silêncio
apenas quebrado pela incursão de teu olhar,
por cada "passo" teu num mundo só meu...

se pudesses auscultar
o sangue que corre em minhas veias,
em cada gota, mil histórias para contar,
um filme colorido,
sorrisos, um beijo "proibido",
abraços em "passo" corrido...
ah, se pudesses tocar...

atento, escuto o silêncio
agora que estás ausente,
mas tão presente...

tão frias as paredes deste quarto,
os cortinados impecavelmente alinhados,
mas lá fora... o sol continua a sorrir,
indiferente a todos os meus fados...

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

ondas ao vento...



como se pudesse navegar
nas ondas de teus cabelos,
preparo meu barco de brincar,
casco de seda, onde as velas são meus dedos...

navego sem destino,
com tanto a descobrir
num corpo em desatino
ávido de prazer e sentir...

meu porto de abrigo?
meu areal estéril e perdido?
assim és tu, meu descontentamento,
rio árido, leito de tormento...



domingo, 22 de setembro de 2019

no templo...




de mente aberta,
coração atento,
entro no templo
onde a Palavra faz sentido...
voa o pensamento pelo imaterial,
pelo divino,
por entre os cânticos do coro,
entra na alma
como gotículas de soro
que nos alimenta, nos acalma...

faz-se tarde,
e não tarda, fecha-se o Paraíso,
interiorizo o certo e o indeciso,
chama que queima, mas não arde.

de mente aberta
sigo o meu caminho,
umas vezes recto, outras em desalinho...